Por NEI LOPES (Foto de Márcia Moreira)
Quando te disserem que você quer dividir o Brasil em pretos e brancos, mostre que essa divisão sempre existiu. Se insistirem na acusação, mostre que, neste país, 121 anos após a Abolição, em todas
as instâncias, o Poder é sempre branco. E que até mesmo como técnicos de futebol ou carnavalescos de escolas de samba, os negros só aparecem como exceção.
Quando, ainda batendo nessa tecla, te disserem que o Brasil é um país mestiço, concorde. Mas ressalve que essa mestiçagem só ocorre, com naturalidade, na base da pirâmide social, e nunca nas altas esferas do
Poder. E que o argumento da mestiçagem brasileira tem legitimado a expropriação de muitas das criações do povo negro, do samba ao candomblé.
Quando te jogarem na cara a afirmação de que a África também teve escravidão, ensine a eles a diferença entre servidão e cativeiro. Mostre que a escravidão tradicional africana tinha as mesmas características da instituição em outras partes do mundo, principalmente numa época em que essa era a forma usual de exploração da força de trabalho. Lembre que, no escravismo tradicional africano, que separava os mais poderosos dos que nasciam sem poder, o bom
escravo podia casar na família do seu senhor, e até tornar-se herdeiro. E assim, se, por exemplo, no século XVII, Zumbi dos Palmares teve escravos, como parece certo, foi exatamente dentro desse contexto histórico e social.
Diga, mais, a eles que, na África, foram primeiro levantinos e, depois, europeus que transformaram a escravidão em um negócio de altas proporções. Chegando, os europeus, ao ponto de fomentarem guerras para, com isso, fazerem mais cativos e lucrarem com a venda de armas e seres humanos.
Diga, ainda, na cara deles que, embora africanos também tenham vendido
africanos como escravos, a África não ganhou nada com o escravismo,
muito pelo contrário. Mas a Europa, esta sim, deu o seu grande salto,
assumindo o protagonismo mundial, graças ao capital que acumulou coma
escravidão africana. Da mesma que forma que a Ásia Menor, com o
tráfico pelo Oceano Índico, desde tempos remotos.
Quando te enervarem dizendo que movimento negro é imitação de
americano, esclareça que já em 1833, no Rio, o negro Francisco de
Paula Brito (cujo bicentenário estamos comemorando) liderava a
publicação de um jornal chamado O Homem de Cor, veiculando, mesmo com
as limitações de sua época, reivindicações do povo negro. Que daí, em
diante, a mobilização dos negros em busca de seus direitos, nunca
deixou de existir. E isto, na publicação de jornais e revistas, na
criação de clubes e associações, nas irmandades católicas, nas casas
de candomblé... Etc.etc.etc.
Aí, pergunte a eles se já ouviram falar no clube Floresta Aurora,
fundado em 1872 em Porto Alegre e ativo até hoje; se têm idéia do que
foi a Frente Negra Brasileira, a partir de 1931, e o Teatro
Experimental do Negro, de 1944. Mostre a eles que movimento negro não
é um modismo brasileiro. Que a insatisfação contra a exclusão é geral.
Desde a fundação do Partido Independiente de Color, em Cuba, 1908,
passando pelo movimento Nuestra Tercera Raíz dos afro-mexicanos, em
1991; pela eleição do afro-venezuelano Aristúbolo Isturiz como
prefeito de Caracas, em 1993; pelo esforço de se incluírem conteúdos
afro-originados no currículo escolar oficial colombiano no final dos
1990; e chegando à atual mobilização dos afrodescendentes nas
províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios e Missiones, para só
ficar nesses exemplos.
Quando, de dedo em riste, te jogarem na cara que os negros do Brasil
não são africanos e, sim, brasileiros; e que muitos brasileiros pretos
(como a atleta Fulana de Tal, a atriz Beltrana, e o sambista
Sicraninho da Escola Tal) têm em seu DNA mais genes europeus do que
africanos, concorde. Mas diga a eles que a Biologia não é uma ciência
humana; e, assim, ela não explica o porquê de os afrobrasileiros
notórios serem quase que invariavelmente, e apenas, profissionais da
área esportiva e do entretenimento. E depois lembre que a Constituição
Brasileira protege os bens imateriais portadores de referência à
identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira e suas respectivas formas de expressão. E que a
Consciência Negra é um desses bens intangíveis.
Consciência Negra repita bem alto pra eles, parafraseando Leopold
Senghor não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio
legitimo de expansão e crescimento. Não é separatismo,
segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos
que constituem a Nação brasileira.
Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos,
sabendo claramente o que somos, de onde viemos e para onde vamos,
interagindo, de igual pra igual, com todos os outros seres humanos, em
busca de um futuro de força, paz, estabilidade e desenvolvimento.
Quando te disserem que você quer dividir o Brasil em pretos e brancos, mostre que essa divisão sempre existiu. Se insistirem na acusação, mostre que, neste país, 121 anos após a Abolição, em todas
as instâncias, o Poder é sempre branco. E que até mesmo como técnicos de futebol ou carnavalescos de escolas de samba, os negros só aparecem como exceção.
Quando, ainda batendo nessa tecla, te disserem que o Brasil é um país mestiço, concorde. Mas ressalve que essa mestiçagem só ocorre, com naturalidade, na base da pirâmide social, e nunca nas altas esferas do
Poder. E que o argumento da mestiçagem brasileira tem legitimado a expropriação de muitas das criações do povo negro, do samba ao candomblé.
Quando te jogarem na cara a afirmação de que a África também teve escravidão, ensine a eles a diferença entre servidão e cativeiro. Mostre que a escravidão tradicional africana tinha as mesmas características da instituição em outras partes do mundo, principalmente numa época em que essa era a forma usual de exploração da força de trabalho. Lembre que, no escravismo tradicional africano, que separava os mais poderosos dos que nasciam sem poder, o bom
escravo podia casar na família do seu senhor, e até tornar-se herdeiro. E assim, se, por exemplo, no século XVII, Zumbi dos Palmares teve escravos, como parece certo, foi exatamente dentro desse contexto histórico e social.
Diga, mais, a eles que, na África, foram primeiro levantinos e, depois, europeus que transformaram a escravidão em um negócio de altas proporções. Chegando, os europeus, ao ponto de fomentarem guerras para, com isso, fazerem mais cativos e lucrarem com a venda de armas e seres humanos.
Diga, ainda, na cara deles que, embora africanos também tenham vendido
africanos como escravos, a África não ganhou nada com o escravismo,
muito pelo contrário. Mas a Europa, esta sim, deu o seu grande salto,
assumindo o protagonismo mundial, graças ao capital que acumulou coma
escravidão africana. Da mesma que forma que a Ásia Menor, com o
tráfico pelo Oceano Índico, desde tempos remotos.
Quando te enervarem dizendo que movimento negro é imitação de
americano, esclareça que já em 1833, no Rio, o negro Francisco de
Paula Brito (cujo bicentenário estamos comemorando) liderava a
publicação de um jornal chamado O Homem de Cor, veiculando, mesmo com
as limitações de sua época, reivindicações do povo negro. Que daí, em
diante, a mobilização dos negros em busca de seus direitos, nunca
deixou de existir. E isto, na publicação de jornais e revistas, na
criação de clubes e associações, nas irmandades católicas, nas casas
de candomblé... Etc.etc.etc.
Aí, pergunte a eles se já ouviram falar no clube Floresta Aurora,
fundado em 1872 em Porto Alegre e ativo até hoje; se têm idéia do que
foi a Frente Negra Brasileira, a partir de 1931, e o Teatro
Experimental do Negro, de 1944. Mostre a eles que movimento negro não
é um modismo brasileiro. Que a insatisfação contra a exclusão é geral.
Desde a fundação do Partido Independiente de Color, em Cuba, 1908,
passando pelo movimento Nuestra Tercera Raíz dos afro-mexicanos, em
1991; pela eleição do afro-venezuelano Aristúbolo Isturiz como
prefeito de Caracas, em 1993; pelo esforço de se incluírem conteúdos
afro-originados no currículo escolar oficial colombiano no final dos
1990; e chegando à atual mobilização dos afrodescendentes nas
províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios e Missiones, para só
ficar nesses exemplos.
Quando, de dedo em riste, te jogarem na cara que os negros do Brasil
não são africanos e, sim, brasileiros; e que muitos brasileiros pretos
(como a atleta Fulana de Tal, a atriz Beltrana, e o sambista
Sicraninho da Escola Tal) têm em seu DNA mais genes europeus do que
africanos, concorde. Mas diga a eles que a Biologia não é uma ciência
humana; e, assim, ela não explica o porquê de os afrobrasileiros
notórios serem quase que invariavelmente, e apenas, profissionais da
área esportiva e do entretenimento. E depois lembre que a Constituição
Brasileira protege os bens imateriais portadores de referência à
identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira e suas respectivas formas de expressão. E que a
Consciência Negra é um desses bens intangíveis.
Consciência Negra repita bem alto pra eles, parafraseando Leopold
Senghor não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio
legitimo de expansão e crescimento. Não é separatismo,
segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos
que constituem a Nação brasileira.
Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos,
sabendo claramente o que somos, de onde viemos e para onde vamos,
interagindo, de igual pra igual, com todos os outros seres humanos, em
busca de um futuro de força, paz, estabilidade e desenvolvimento.
Recebido de Luiz Carlos Gá, via e-mail.